terça-feira, 25 de maio de 2010

MARROCOS...

"No deserto viajei de camelo..."
A dois passos de Portugal fica um país misterioso, vibrante, históricamente rico, de povo afável, agreste... É a "Terra de todos os sons e cheiros", pelo que uma viagem a Marrocos se torna numa experiência verdadeiramente sensorial. E Marrocos não é só a celebrada Casablanca que conhecemos do filme do mesmo nome, ou Rabat e as suas maravilhas contadas nas mil e uma noites, porque conhecer Marrocos é um convite que se faz sem receio de que se possa arrepender de o fazer.
A Medina de Fez, a cidade imperial de Meknes, conhecer os souks de Maraquexe, a cidade-azul Chefchaouen, nas montanhas do Rif, o Alto Atlas, a garganta de Todra e o vale de Dra, a pitoresca cidade costeira de Asilah, Essaouira, as ruínas romanas de Volubilis, Merzouga e as dunas de Erg-Chebbi, ou o ksar de Ait-Benhaddou - motivos de sobra para viajar até Marrocos, tão perto e tão distinto.
“Voulez-vous des aphrodisiaques, monsieur?” - O convite murmurado não chega a acordar-nos da suave volúpia das cores e dos odores das especiarias. O vulto que inclina o rosto sobre a banca cheia de coloridas e delicadas pirâmides veste uma djellaba de um castanho terra que lembra os tons quentes das muralhas dos kasbahs arruinados do outro lado das montanhas do Atlas.
As últimas luzes do crepúsculo conseguem introduzir-se no coração dos souks e incendeiam as cores das especiarias, iluminam os desenhos geométricos dos tapetes que contam histórias antigas, dessas que ajudam a delimitar subtilmente o caminho das identidades.O mercado de Marraquexe, um dos mais impressionantes de todo o Magreb, é um imenso emaranhado de ruelas - oásis de sombra que quase nos absorvem na sua intimidade.

Os braços do labirinto estreitam-se mais e mais ao cair da noite, quando um extenso formigueiro de gente flui sem interrupção e aparentemente sem rumo. Aqui e ali, poucos parecem ser os vultos que se detêm junto às lojas, movem-nos outros destinos que não conheceremos nunca, ocultos num dobrar sucessivo de ruelas.
A Medina de Marraquexe não se conforma a descrições, o verbo atrevido perde aqui qualquer ilusão de pintar o bulício de colmeia que a agita. Azáfama comercial, gente à deriva, turistas, guias e simpáticos ratoneiros, artesãos absorvidos na sua arte, rostos que parecem acordados do imaginário das mil e uma noites, olhares em trânsito perscrutando exóticos forasteiros.
Como nos tempos ditos medievais, tanto o trabalho como os objectos a mercar se repartem por cantões especializados.
Não é exagero dizer-se que todos os sentidos são indispensáveis para fruir o caleidoscópio de cores, sons, sabores e aromas vindos da praça. A atmosfera desenha-se com uma infinidade de elementos plásticos. Os pequenos restaurantes ao ar livre exalam odores e fumaradas que vagueiam pela praça. Tambores e cornetas repetem lenga-lengas minimalistas ao mesmo tempo que as serpentes trazidas dos desertos dançam ao som das flautas berberes. Contadores de histórias, que podem continuar indefinidamente as suas narrativas (em árabe ou berbere) nos dias ou nas semanas seguintes, juntam à sua volta dezenas de ouvintes absolutamente alheados de tudo quanto à volta sucede. Videntes e astrólogos desenham no chão, com coloridos pigmentos, o porvir dos clientes. Médicos e curandeiros reputadíssimos descrevem meticulosamente as propriedades curativas de uma grande variedade de ervas e antídotos para mordeduras de escorpiões ou tarântulas. Nada do outro mundo, todavia.

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