Nos tempos em que Angola era uma parte de Portugal, tive o ensejo de viver alguns tempos em Luanda, onde frequentei o Liceu Salvador Correia, fui às matinés no Miramar ou no Tropical, ao "Chá das Seis" no Restauração, comi "Du Cheses" na Paris ou comi camarão na Versalhes.
Quando chegava o fim-de-semana, como era da praxe, dava o meu passeio até às Ilha, onde me banhava nas cálidas águas do Mussulo, quando não o fazia na Praia do Bispo.
Nos Domingos fazia o passeio pela Maianga, pela Mutamba, subia aos "Combatentes", pois gostava de meter o nariz no Mercado dos Lusíadas, em Quinaxixe, para apreciar o marisco "ainda vivinho da costa", que se vendia a "duas quinhenta" ou "Angolar e cinquenta", na hora da quintandeira estar de partida para o Muceque, que tanto podia ser o Prenda como o Vila Alice, o Operário ou o da Cuca.
Na Portugália, o bom do velho João, o empregado de mesa, tratava de trazer o pires da ginguba ou do camarão, o carapauzinho frito ou a dobradinha com feijão branco... e a tarde ia passando entre petiscos e Coca-Cola ou sumos da Mission.
O cheiro a maresia vinha do lado da baía, onde um ventinho suave convidava a caminhar pelos passeios emoldurados por lindas palmeiras.
Na Cidade Alta já se ouvia o toque para arrear a Bandeira Portuguesa, no Palácio do Governador, no Quartel General ou no Comando da Região Aérea. Os transeuntes, em sinal de respeito, tratavam de se descobrir e perfilar, porque a ordem era essa e era para ser cumprida.
Nos candeeiros começava a brilhar a luz, que iria iluminar os caminhos de regresso a casa...
Eram outros tempos, aqueles que se viviam em Luanda, em plena paz e quietude que parecia contrariar a tensão em que estava Angola, naqueles tempos da guerra.
Quanta saudade de um tempo que foi passado... sabendo-se que este não volta!
- das "Recordações da Antonieta" -
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