sábado, 26 de março de 2011

ÉVORA - cidade museu

Viajar é sempre aliciante, seja lá qual seja o destino! No meu deambular em busca de novas e interessantes "Crónicas de Viagem", procuro sempre o que de melhor temos neste mundo... sem esquecer que temos em casa tanta coisa boa, mas temos sempre tendência para cobiçar o que é dos outros, seja lá o motivo que possamos apresentar.
Agora o lema "PORTUGAL ESTÁ PRIMEIRO" deriva daquele outro que dizia: "CONHEÇA O PORTUGAL DESCONHECIDO", porque ficaremos admirados com o que iremos encontrar. Foi o que me aconteceu em Évora, a cidade portuguesa que é capital do distrito do mesmo nome e fica situada em pleno Alentejo Central. Tem aproximadamente 42.000 habitantes e é a sede de um dos mais importantes municípios, com os seus 1307,04 K2 e 54.780 habitantes divididos por 19 freguesias. Forma a Arquidiocese de Évora e é conhecida por Capital do Alto Alentejo.
Universidade de Évora
O Centro Histórico de Évora apresenta-se muito bem conservado e é dos mais ricos acervos da monumentalidade existente em Portugal, daí lhe advindo o título de CIDADE MUSEU. Foi declarado Património Mundial pela UNESCO em 1986.
A história de Évora é riquíssima e pode recuar até cerca de dois milénios, como o comprovam alguns monumentos megalíticos ali existentes, como por exemplo a Anta do Zambujeiro ou o Cromeleque dos Almendres. Alguns povoados neolíticos foram-se desenvolvendo na região, sendo o mais próximo o que se localiza no Alto de São Bento.
Um outro é o chamado Castelo de Giraldo, que foi habitado continuamente desde o 3º. milénio até ao 1º. milénio antes de Cristo e de esporádica ocupação medieval. Nem as escavações até agora efectuadas foram conclusivas quanto ao ter o local onde se situa a cidade ter sido ou não habitado antes da chegada dos Romanos.
Segundo a lenda que o humanista e escritor de Évora André de Resende popularizou, Évora teria sido sede das tropas do general Sertório, que ajudado pelos Lusitanos de Viriato teria afrontado o poder de Roma. De concreto sabe-se apenas que Évora foi elevada a municipium com o nome de Ebora Liberalitas Julia, como homenagem a Júlio César. Governava o Imperador Augusto quando Évora foi integrada na Província da Lusitânia, beneficiando de várias melhorias urbanísticas de entre as quais se salienta o Templo romano a que se chama 'de Diana', que seria dedicado ao culto imperial. São as ruínas mais importantes que nos ficaram até aos nossos dias, bem como as ruínas dos banhos públicos.
Na freguesia de Tourega existem ainda uns restos bem conservados de uma villa romana, comprovando que ao redor da cidade existiam estabelecimentos rurais que eram sustentados pela classe senhorial.
A partir do século III, por causa da grande instabilidade que se vivia no Império, a cidade foi cercada por uma muralha, da qual ainda hoje existem alguns elementos.
Évora foi tomada aos Mouros em 1165, por acção de Geraldo Giraldes, o Sem Pavor, um cavaleiro cristão ao serviço de D. Afonso Henriques, que lhe concedeu o primeiro foral e nela estabeleceu na cidade a Ordem dos Cavaleiros de Calatrava, mais tarde chamada de Avis. A Sé Catedral é uma das mais importantes catedrais medievais, tem estilo gótico e foi construída entre os séculos XIII e XIV.
Na zona do antigo forum romano e alcácer muçulmano, foram erguidos os antigos Paços do Concelho e palácios da nobreza local. A partir do século XIII instalaram-se em Évora várias ordens religiosas, cujos conventos se ergueram nas zonas fora da muralha, o que deu azo à formação de uma nova área urbana numa zona onde já havia sido criada uma judiaria e uma mouraria. Este crescimento fez com que houvesse necessidade de proteger a cidade com uma nova muralha, no reinado de D. Diniz.
As principais praças da cidade eram a Praça do Giraldo - que antigamente era designada por Praça Grande -, o Largo das Portas de Moura e o Rossio. Na Praça do Giraldo tinha lugar a feira anual, a partir de 1275 e foi lá que, desde o século XIV, funcionaram os Paços do Concelho e a cadeia. A partir do século XVI, a feira e os mercados da cidade passaram a realizar-se no Rossio.
Claustro da Sé de Évora

O século XVI marcou o auge de Évora no contexto nacional, pois viu-se guindada à categoria de um dos mais importantes centros culturais e artísticos do Reino de Portugal. A partir de D. João II e muito em especial nos reinados de D. Manuel I e D. João III, Évora foi favorecida pela Coroa portuguesa, que a passou a preferir para longas estadias.

Muralha da cidade

Muitas famílias nobres, como os Vimioso, os Cordovil, os Gama, Cadaval e outras, instalaram-se na cidade e aí ergueram palácios. D. Manuel I concedeu-lhe novo foral em 1501 e mandou construír os Paços Reais em Évora, numa mistura entre os estilos mudéjar, manuelino e renascentista. D. João III mandou erguer a Igreja da Graça, um belíssimo templo estilo renascentista, onde planeava ser sepultado. Mandou ainda este monarca construír o Aqueduto da Água de Prata, que teve como arquitecto Francisco de Arruda. Em Évora tiveram residência o poeta Garcia de Resende, os pintores Frei Carlos, Francisco Henriques e Gregório Lopes, o escultor Nicolau de Chanterene e vários eruditos e pensadores, de entre os quais se destacam Francisco de Holanda e André de Resende. Em 1540 foi a Diocese de Évora elevada à categoria de Arquidiocese, sendo 1º. Arcebispo o Cardeal Infante D. Henrique, que fundou a Universidade de Évora - afecta à Companhia de Jesus -, no ano de 1550. A extinção desta Universidade em 1759 afectou gravemente a cidade, mas a expulsão dos Jesuítas foi decretada pelo Marquês de Pombal e nada havia a fazer.Veio a ser restaurada cerca de 200 anos depois.
Nos séculos XVII e XVIII houve a construção de importantes edifícios, construídos de raiz ou reformados em estilo maneirista ("chão"). Entre o vasto património citadino, uma referência especial para a capela-mor barroca da Sé, obra do arquitecto Ludovice
, e os altares e painéis de azulejo que cobrem as paredes interiores das igrejas e da universidade.

O Templo romano de Diana é um dos mais importantes monumentos de origem romana existentes em Portugal. Está situado no ponto mais alto de Évora e foi parte do forum romano. Julga-se que tenha sido construído por volta do século I para homenagear o Imperador Augusto, sendo erradamente chamado de Templo de Diana.
A Igreja de São Francisco, construída no reinado de D. João II mas apenas terminada no de D. Manuel I, tem uma arquitectura que mistura os estilos gótico, mudéjar e manuelino. Constituída por uma nave única, com uma imensa abóbada de pedra, é uma obra-prima da arquitectura gótica portuguesa. No seu interior há a salientar a Capela dos Ossos, mandada construír no século XVIII. É inteiramente forrada com ossos humanos e conhecida pela famosa frase ostentada sobre o portal de entrada: "NÓS OSSOS QUE AQUI ESTAMOS PELOS VOSSOS ESPERAMOS".

Do Palácio de D. Manuel I, o paço construído na cidade no início do século XVI, apenas sobreviveu a chamada Galeria das Damas, onde vemos misturadas influências gótico-mudéjar, manuelino e renascentista.

O Convento dos Loios tem na igreja e claustro belíssimos exemplos dos estilos gótico-mudéjar e manuelino em Évora. O convento está, na actualidade, transformado em pousada.

Gastronómicamente, Évora é uma zona riquíssima, salientando-se iguarias como a "Sopa de toucinho", "Sopa de Cação", as sopas de beldroegas e de tomate, o "Ensopado de borreguinho" ou de "borrego", a "Cabeça de Xara", os "Pézinhos de porco de coentrada", as "Empadas de galinha", a "Perdiz à Montemor", a lebre e outros pratos de caça, as açordas, as migas, os sarapatéis, os enchidos, as cacholeiras, os presuntos barrados a azeite, a açorda à Alentejana, o gaspacho à Alentejana e a sangalheta.

Na doçaria há a realçar a encharcada do Convento de Santa Clara, os pastéis de toucinho, as trouxas de ovos, a cernelha, o bolo de mel, o porquinho de chocolate, as tibornas, o pão de rala, o pão de ló, as queijadas de requeijão, os queijinhos do céu, as granadas, as queijadas de Évora, o toucinho da Madre Abadessa, as filhós enroladas.

Também há que salientar os belíssimos queijos curados, fabricados com leite de ovelha misturado com o de cabra. Não se pode deixar de provar o Licor de Poejo.



Brasão de Évora