Há a convicção de que Andorra, Suíça, Áustria, França e aí por diante são únicos quando se trata de encontrar uma pista capaz de nos deixar ir ao encontro do sonho deslizando na neve, a fazer fé naquilo que se vai ouvindo aos amantes dos desportos de Inverno... e é muito acertado que se pense em grande no que respeita à neve, porque os mantos que costumam cobrir as nossas serras são p0r demais insignificantes nessa matéria. Não chegam para que se possa fazer uma competição, por mais simples que esta seja!Bem... não quero dizer que não haja momentos em que pensamos estar nas maravilhosas estâncias de sky de Innsbruck ou Saint Anton, como é o caso este ano, uma vez que parece que o céu resolveu fazer uma surpresa aos portugueses e presenteou o nosso país com uma queda de neve impressionante, que veio dar mais beleza a tudo o que nos rodeia... mas também veio trazer frio que chegue para uma casa de família!
As fotos apresentadas são elucidativas da neve que caiu nas regiões da Guarda e de Vila Real, tal como em Bragança, Lamego, Viseu e em geral um pouco por todas as zonas elevadas do Norte e Centro do País. Parece que voltou a Portugal aquele Inverno da minha infância, quando se brincava com a neve no adro da igreja, enquanto se esperava pela Missa do Galo nas noites de Consoada. Como postal de Boas Festas natalícias, é sempre bonito mandar aos Amigos uma paisagem nevada que nos diga algo, que possa dizer-lhes quanto é bonito o nosso País em qualquer época do ano, com sol ou com neve! Bom seria que o nosso departamento nacional de Turismo desse a conhecer ao mundo as nossas maravilhas sem ser através de eleições de cariz mais partidarizado que real, pois os nossos visitantes não são trouxas e sabem bem aquilo que é belo e o que é apenas... propaganda.
BALADA DA NEVE
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Batem leve, levemente,
como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim!
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É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...
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Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
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Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
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Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...
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Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto entre os demais,
os traças miniaturais
duns pázitos de criança...
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E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...
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Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
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E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração!
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Augusto Gil